sábado, 5 de fevereiro de 2011

Panis et Circencis





















“Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão
Viu?
Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão

(Coro) Apesar de você
amanhã há de ser outro dia (...)”

Apesar de você é uma música de Chico Buarque de Holanda lançada em 1970, porém devido seu conteúdo supostamente “subversivo”, foi proibida e só pode ser tocada e ouvida livremente em 1978.

Para mim (acredito que para muitos outros também) esta é a música mais alegórica em termos do que se conheceu por censurara e ditadura militar; é a história vista por dentro, história viva que não é a mesma dos livros didáticos nem do discurso dos mestres, é a história que vive nas entranhas de quem viveu e conhece a dor que é ter algo a dizer, dor que não apenas dói, mas dor que sufoca e pode até matar! Sufocou não só artistas, mas também jornalistas e principalmente políticos (principalmente políticos...).

Bom, o fato é que o mundo deu voltas. Já não temos o mesmo cenário, não há mais guerra fria, os generais se foram, os presidentes vieram... Nos jornais, televisões, revistas, internet, tudo passa, tudo é permitido, tudo é LIVRE! Nas ruas fala-se do que bem se tem vontade, fala-se do jogo de futebol, imita-se o personagem da novela das oito, ouve-se comentários sobre a tragédia que o Datena mostrou, faz-se piadas sobre o Serra, o Kassab, a Marta Suplicy, Até o Lula entra na dança!... Ah, enfim temos uma DE-MO-CRA-CI-A!

Mas será que é mesmo?...

Segundo uma pesquisa realizada pela organização não governamental Eurodata TV Worldwide, as crianças brasileiras passam em média 3 horas e 31 minutos por dia em frente à televisão, e como percebe-se muito evidentemente em nossa sociedade, isso é refletido em seu comportamento. Quem nunca viu uma criança brincando de Superman, Spider Man, Policia e Ladrão e etc.? Ou melhor, quem nunca viu um menino que sonhasse em ser jogador de futebol ou uma menina que sonhasse em ser uma princesa e ter um príncipe encantado que lhe levasse para morar no castelo? Mas é claro, é uma atitude absolutamente compreensível e de certa forma natural, isso são fantasias da infância, até quem nunca teve televisão em casa fantasiou quando criança, porém o que preocupa realmente é que muitas dessas fantasias introjetadas na psique do brasileiro desde a infância podem perdurar por toda a vida e terminam por formar seres humanos alienados, presos às coisas fúteis e mundos de fantasias que lhes são expostos desde bem pequenos. Será que esta não é uma forma indireta de censura também?

Mas não há só isso, entretenimento fútil e efêmero, há e sempre houve uma arte verdadeira que diverte, sim, mas também conscientiza, alerta, policia. Mas esta arte é abafada, suprimida; as grandes mídias formadoras da opinião popular pouco falam de temas de fato importantes de uma forma clara explicita e inteligível, quando falam, logo vira piada em seus programas humorísticos, mas quando algo crítico de verdade é produzido por aqueles que têm cede de mudança, isso não ganha visibilidade nenhuma, permanece praticamente no mesmo grupo de onde foi gerada, não chega às mãos de quem realmente precisa, às mãos do povo. É conveniente para alguns.

Entre idas e vindas esta é a nossa neo-censura, onde não é proibido mostrar nada, mas é previamente decidido o que se vê, o que se aceita e o que se repudia.

VIVA NOSSA DEMOCRACIA!!!