domingo, 26 de setembro de 2010

Parcialidade



Estamos "carecas" de saber que a imparcialidade, tão citada como essencial quando nos referimos a grandes veículos de informações (jornais, revistas e etc.) de fato NÃO EXISTE, tudo na chamada mídia é tendencioso e pretencioso afim de levar nós, (grande massa de manobra) a crer que dados valores e produtos são importantes ou não em nossas vidas, tudo de acordo com os interesses da restrita e seleta OLIGARQUIA que nos governa por vias diretamente políticas ou econômicas. O triste é que na grande maioria das vezes acaba cumprindo seu objetivo.

Nos últimos tempos tenho percebido algo que tem me atordoado um bocado, não sei se por uma influência direta da mídia, se por costume social ou se simplesmente é da própria natureza humana, mas NADA nesse mundo tem o direito ser um meio-termo, não se pode ser livre em paz, tudo tem que ter um posicionamento; quando se está entre intelectuais não se pode falar de coisas simplesmente banais, senso comum, até as brincadeiras precisam necessariamente ter um fundo inteligente ou você é mal visto naquele meio; se anda com o "pessoal da bagunça" não é permitido ter discernimento algum sobre coisa nenhuma, todo mundo é obrigado a ser ignorante igualmente, caso se diga algo que faça um pouco mais de sentido ou seja um pouco mais profundo que o comum, logo te interpretam como chato, aquele que quer ser melhor que os outros, sobressair. Até em termos políticos e ideológicos é assim, não é à toa que existe a distinção: partidos de direita e partidos de esquerda.

Minha questão é: porque não pode haver uma coexistência e complementação entre as partes? Qual o problema de se ter liberdade de pensamento, liberdade até para ser preso as formas convencionais e fixas se assim desejar? O que nos leva a crer que simplesmente por ter uma tendência política de esquerda por exemplo não podemos considerar válida NENHUMA proposta que venha da oposição (e vice-versa) pelo simples fato de ter raízes ideológicas diferentes das nossas?

Vamos expandir as fronteiras manos!!! Nós como pessoas pensantes não podemos nos prender às formas, fórmulas, partidos, ideologias prontas que se pretendem revolucionárias mas não passam de simples "kits" de modos de pensar mastigadinho e pronto para o consumo. Enquanto não aprendermos a ser maleáveis e a transitar entre os diversos mundos que nos cercam, tudo vai continuar como está, tanto nos grupos sociais (Pagodeiros, roqueiros, intelectuais, religiosos e etc.) quanto em termos de posicionamento ideológicos (direita, esquerda, anarquista, capitalista, entre outros); vamos continuar criticando toda e qualquer ação de tudo o que for diferente de nós e continuaremos eternamente nesses debates e discussões inúteis e sem sentido.


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O menino está do lado de fora da paisagem



Apresentação
Olá pessoas, o Sparta Mente esteve em estado de estagnação durante alguns meses por causa de alguns desentendimentos que andei tendo com Cronos, -fui passado pra trás por ele-, mas pouco a pouco estamos nos acertando. Enfim, apreciem.

Boa leitura!




O menino parado no sinal de trânsito vem em minha direção e pede esmola. Eu preferia que ele não viesse. [...] Sua paisagem é a mesma que a nossa: a esquina, os meios-fios, os postes. Mas ele se move em outro mapa, outro diagrama. Seus pontos de referência são outros. Como nãotem nada, pode ver tudo. Vive num grande playground, onde pode brincar com tudo, desde que "de fora".O menino de rua só pode brincar no espaço "entre"as coisas. Ele está fora do carro,
fora da loja, fora do restaurante.

A cidade é uma grande vitrine de impossibilidades. [...] Seu ponto de vista é contrário do intelectual: ele não vê o conjunto nem tira conclusões históricas - só detalhes interessam. O conceito de tempo para ele é diferente do nosso. Não há segunda-feira, colégio, happy hour. os momentos não se somam, não armazenam memórias. Só coisas "importantes": "Está na hora de o português da lanchonete despejar o lixo..." ou "estão dormindo nomeu caixote" [...]

Se não sentir fome ou dor, ele curte. Acha natural sair do útero da mãe e logo estar junto aos canos de descarga pedindo dinheiro. Ele se acha normal; nós é que ficamos anormais com a sua presença.



A. Jabor. O menino está fora da
paisagem. O Estado de S. Paulo,
14 abr. 2009. Caderno 2, p. D 10